sábado, 24 de novembro de 2007

Uhu, Foz do Iguaçu!

Tudo começou com um scrap de uma guria que tinha uma foto verde: "Oi, vi que você também usa linux, vai ter um congresso em Foz do Iguaçu. Estou organizando uma caravana gratuita para ir pra lá", caravana? sim, eu também lembrei do tio Silvio Santos e não contei pra ninguém
que eu ia de caravana para Foz e sim de excursão. Acharam loucura ir viajar assim "sozinha" pra outro estado ainda mais com um convite via orkut mas quando uma prima minha fez uma lipo no início do ano eu perguntei: tu não tem medo de morrer ou de ficar abobada? E ela me respondeu: não, se não for hora de morrer eu não vou morrer. E eu adotei essa filosofia de vida: vou pra Foz e se não for a hora de morrer eu sobreviverei a esta viagem!

Pedi demissão do meu trabalho(afinal daqui até Foz são aproximadamente 13 horas de viagem e o evento duraria 2 dias, então eu teria que ter uma semana livre pelo menos), gravei em video um testamento pedindo pra minha mãe se eu morresse que ela vendesse todas minhas coisas no mercado livre para seguir com meu empreendedorismo, saquei meu limite do banco e Uhu, Foz do Iguaçu, aí vou eu!

Troquei e-mails com a menina verde e ela criou um grupo para que os congressistas se comunicassem, perguntei para as pessoas todas com o maior ar de vítima se eu era a única guria e se era a única sozinha, maior abandonada. As gurias não me deram a menor bola(exceto a menina verde que é muito querida) mas um guri sim, disse que me ajudaria com as compras no Paraguai e disse que pararia num hotel que a diária era 25 reais. Foi uma dúvida bem cruel: paro no hotel de 65 que a menina verde me indicou com piscina, wi-fi, café da manhã onde ela pararia com seu pai e namorado ou nesse que custava menos da metade com o guri que disse que ia sozinho(mas era mentira foi com um amigo).
Resolvi ligar para o tal hotel, atendeu um vôzinho:
- Oi, me indicaram este hotel, procurei site dele mas não achei nada na internet...
- A gente não tem essas coisas - disse o vôzinho rindo.
- Qual o valor da diária?
- R$ 20,00.
- E porque que é tão barato? É estranho, a gente desconfia de coisas muito baratas.
- É um hotel simples, da minha família. Não tem ar-condicionado, só ventilador, mas o banheiro é individual e é tudo muito limpo.

Fiz minha reserva, preferi economizar no hotel e fazer mais compras no Paraguai. É como um amigo meu diz: se tu vai pra uma balada pra conversar tu vai odiar, da mesma forma que se tu vai pra um pub querendo tunti tunti também será frustrante. Tem que estar preparado para o lugar que tu vai. Eu sabia que não poderia esperar muito de um hotel de 20 reais, então o que viesse era lucro.

A saída estava marcada para às 17h, cheguei pontualmente no local de partida e tinham várias pessoas já esperando pelo ônibus, a menina verde veio falar comigo e perguntei se dava tempo de comprar algumas guloseimas, ela disse que dava, como não podia me acompanhar falou pra
o pai dela ir comigo, um senhor simpático com um tom de pele rosa e com os cabelos brancos(é diferente, mas mais diferente que isso são negros de cabelos brancos que ficam parecendo um casadinho, mas a melhor comparação foi a que meu cunhado fez ao ver um cara importante do carnaval, um negro que pintou o cabelo de loiro: olha, ele parece um girasol!).
O ônibus foi chegar beeeem depois, o Beto(guri do hotel barato) me reconheceu e veio falar comigo, estava ele, um amigo e mais uma amiga do amigo, contei pra o Beto que o vôzinho do hotel tinha me dito que a diária era 20 e não 25. Ele contou pros outros dois: O dono do hotel fez a diária por 20 pra ela, o amigo dele perguntou: E porque que pra nós ele fez po 25?, respondi: é porque eu sou especial, vocês não. Todo mundo riu, menos o amigo e a amiga do amigo que ficaram me olhando com cara de paisagem(tudo bem, não são meus parentes mesmo).

Sentei ao lado do Beto, afinal seria meu guia por lá. Conversamos um monte, trocamos figurinhas, acabamos com minhas guloseimas e num determinado momento acabou o assunto(afinal eram muitas horas de viagem), ele se aproximou colocou a mão em cima do meu banco, olhei meio assustada: mas o que é isso?, ele colocou a mão no meu rosto com a delicadeza e sutileza de um mamute e afundou os dedos na minha bochecha e veio se aproximando para me beijar daí sim fiquei completamente assustada e emiti um som: hã-hã. Pronto, agora todo mundo finge que nada aconteceu! E ainda tinham muitas horas pela frente... Porra, porque que as pessoas tentam beijar as outras do nada? Existe aquela teoria de que quando acabou o assunto se beija mas nem sempre é aplicável, se não você sairia por aí beijando suas amigas, pais, tios e até mesmo o porteiro do prédio depois que parou de falar sobre o tempo. Se quando o assunto acabou a pessoa não tá olhando no teu olho esperando alguma atitude, não tome atitude alguma,
evitar ser ridículo costuma ser bem simples.

"Será que não era para eu ter dobrado ali? Não sei se a gente tá no caminho certo", super legal estar sentada atrás dos motoristas(eram dois) e ouvir esta conversa. De repente começamos andar em círculos e recebi a notícia de que íamos entrar numa cidade pra deixar uma criança que tava no nosso ônibus na casa dos avós, era gente caminhando pra lá e pra cá: "estamos indo pro caminho errado", "pega um mapa", é, talvez seja minha hora de morrer mesmo... O Beto se
animou: Ah mas se a gente parar pra deixar a criança na casa dos avós
a gente desce e come uma cuca!
Mas os motoristas se perderam e acabaram passando da cidade que era pra deixar a criança, tudo bem, tudo que eu mais queria mesmo era ouvir choro de cria às 3h da manhã. Só me restava mesmo encher a cara de guloseimas:
- Amigo e amiga do amigo, vocês querem?
- Simmmm! Mas o que que é isso?
- Chucrutes!
E a cada oferecida de guloseimas eu berrava: Chucrutes!

Quando finalmente chegamos em Foz, por volta do meio dia o congresso já havia começado e todo mundo foi para seus respectivos hotéis. Porém meu guia estava interessado mesmo nas compras no Paraguai, fui retirar dinheiro para comprar dólares e a droga do meu cartão não quis funcionar, pedi pra minha irmã depositar na conta do Beto e quando ele tentou sacar meu dinheiro ele havia excedido o limite de saque diário, acabou me emprestando do dinheiro dele mesmo. Chegando no Paraguai... nunca vi lugar mais feio e mais sujo, eu de vestido e salto 11 subindo e descendo lomba ouvindo cantadas paraguaias era algo ¬¬ .
Tava necessitando uma câmera digital e os preços por lá estavam bem atrativos, entramos em uma loja(arguille mania - guarde este nome) e o vendedor nos mostrou uma super máquina, sony, 11 mega pixels, ligou a câmera na tv, tirou fotos nossas, filmou, fez e aconteceu com aquela
câmera.
- Quanto?
- 180 doláres.
- Anota aí pra mim: modelo e preço.
Em nenhum lugar tinha o tal modelo, achamos uma parecida em outro lugar mas mais cara, voltamos a loja e comprei aquela câmera incrivel.
Antes de voltar para o Brasil se deve resgistrar e mostrar para os homenzinhos da receita tudo aquilo que foi comprado. Foi aí que o cara da receita nos informou que a câmera era falsificada daí os 4 patetas foram reparar melhor naquela incrível e surpreendente câmera... Eu que não pretendia voltar aquela cidade horrorosa tão cedo!

A noite, já no hotel, batem na minha porta. Era o Beto:
- Oi, eu posso dormir aqui? Tá uma claridade no meu quarto.
- Bah... eu não ia gostar.
Ai senhor, dai-me paciência!
Fui trocar os lençóis do hotel(eu que não ia usar lençóis de hotel de 20 reais!) e o que eu vejo? Uma barata! Vesti minhas pantufas do frajola e fui até a recepção do hotel, fiz o recepcionista matar a dita cuja e fazer uma inspeção no meu quarto. Ainda não segura fui até o quarto dos 3(pior que a história da claridade era verdade), contei do meu drama da barata e os guris não me deram muita bola, a guria ficou comovida e foi dormir no meu quarto. Contei pra ela do Beto:
- Ai, ele pediu pra dormir no meu quarto. Imagina, guria, ele tinha tentado me beijar antes!
- E daí?
Me senti uma virgem de 15 anos.

No outro dia que eu queria aproveitar o congresso tive que voltar ao Paraguai, uma baita chuva, pedi para minha irmã depositar mais dinheiro na conta do Beto e quando fomos retirar o caixa eletrônico estava estragado. Depois de muita insistência consegui trocar a câmera por uma original de uma marca desconhecida(que por sinal eu já vendi no mercado livre). Chegamos no Brasil e consegui pegar a última palestra do congresso e meu certificado, é claro. A palestra era muito ruim.

De noite o Beto e a amiga inventaram de fazer caipirinhas e eu sabia que aquilo não daria certo... Na noite anterior enquanto a gente vagava pela aquela cidade turística(?) que às 23 horas em véspera de feriado não se achava nenhum lugar pra comer e o guri ficava perguntando se podia me abraçar. Resolvi ir pro meu quarto dormir e no outro dia que eles iam pra Cataratas eu disse que ficaria dormindo no hotel, precisava de uma noitada de sono.

No dia seguinte, como a diária vencia ao meio dia peguei minhas trouxinhas e fui até o hotel onde estavam os motoristas para deixar minhas coisas no ônibus. Chegando no hotel tinha uma gurizada lá e um guri querido me ajudou com minha mala. Nomiei ele como meu ajudante,
feriado numa cidade turística(?) e não encontrei um lugar aberto para almoçar, fui almoçar com eles, o ônibus da excursão deles iá levá-los em um restaurante, era todos tri festeiros, colegas de faculdade(e pensar que meus colegas em 3 anos de faculdade nunca fizeram UMA festa), desejei ter conhecidos eles uns dois dias antes.
"E a aipitek vendida com o adesivo da sony? hahaha" disse um deles, admiti que tinha caído nessa, veio um deles, apertou minha mão e disse que 4 deles haviam comprado na mesma loja e com o mesmo vendedor, me senti menos idiota.
Esse foi o ponto alto da viagem.

Na volta coloquei minha mochila do meu lado e fui sozinha com duas poltronas só pra mim, os motoristas não atrasaram tanto, não se perderam, tomei um naldecon noite, dormi pra caralho e fui feliz pra sempre até o ônibus chegar em Porto Alegre e eu ter que me levantar.