quinta-feira, 7 de janeiro de 2010


Quando meus pais se separaram e o pai foi morar longe (uns dois quarteirões da minha casa) eu virei o porta-retrato com a foto dele pra parede e achei que pudesse ser feliz pra sempre ganhando dois presentes de aniversário.

Quando eu mudei de colégio, na quinta série, eu queria brincar de Barbie e assistir chiquititas, mas minhas colegas queriam ficar com os guris da oitava.

Quando eu tava na oitava eu fui a penúltima da sala a beijar. A mais feia da aula conseguiu tal proeza e eu "dei jeito na vida", fiquei com um guri que agora é emo e eu, uma traumatizada (quando ele ler isso, talvez, uma mulher morta).

Quando eu morei sozinha e não tive dinheiro pra comprar um sorvete no fim de semana, eu dei mais valor pro tomate quase estragando na geladeira.

Quando eu vi meu quarto MUITO desarrumado, eu simplesmente deixei ele muito desarrumado.

Quando eu levei o primeiro pé na bunda eu achei um absurdo alguém ter o direito de não me querer e quando levar o vigésimo, continuarei a achar absurdo. Mas quando eu quis dar o pé da bunda eu descobri que eu não era capaz de fazer isso. Não que eu seja uma pessoa muito boa, veja bem, é exatamente o contrário, eu prefiro manter a ponta-pé até ouvir a palavra mágica "Fim" (Explicado os 19 pés, né?).

Quando eu pesei mais que o meu pai eu percebi que os membros da família podem ser os teus piores inimigos.

Quando eu precisei de grana eu vendi minhas coisas e quando eu não precisei também, afinal eu vivo num mundo capitalista.

Quando eu bebi demais eu fiz coisas que eu não acreditaria mas não vou escrever aqui porque, na verdade, eu ainda não acredito.

Quando eu reli tudo isso eu percebi que eu queria escrever melhor, que eu queria aprender mais, que eu queria ensinar mais, que eu queria viver mais. Mas eu não queria, nem por um segundo, esquecer de quem eu sou.