quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Eu podia estar matando, roubando, mas tô aqui vagabundiando


Estava eu olhando aqueles folders que tem pela faculdade(sim, aqueles que ninguém olha) quando me deparo com: Arrumo guarda-roupas e cômodas. Telefone 99890544.
Minha mãe certa vez tinha dito que só se livraria das obrigações domésticas aqui em casa quem contratasse alguém para fazê-las, a entonação dela foi irônica, porém eu sempre me aproveito da ironia dos outros quando me convém.

Ao encontrar o melhor da PUC não me contive:
- Sabe aquele folder da mulher que arruma guarda-roupas?
- Sim, tu me mostrou outro dia, muito engraçado. Que tem?
- Contratei!
- Ter dinheiro é outra coisa, né?
- Realmente deve ser, porque se eu tivesse contraria uma diariamente pra lavar a louça também.

Lavar a louça. Era a única obrigação que eu tinha, minha mãe achava bonito as pessoas terem uma obrigação e como eu não trabalhava ela queria me dar ocupações. Eu sempre tive certa aversão com compromissos e de qualquer natureza, achava um saco até ter que ligar pro namorado pra dar boa noite e isso que o namorado me dava sexo, coisa que a louça não fazia.

Cheguei em casa, após um dia exaustivo de muita louça e muita professora medindo os trabalhos acadêmicos com fita métrica pra verificar se estavam nas malditas regras da abnt(ahpeganomeuebalança) quando só uma coca-cola cheia de substâncias corrosivas me faria feliz, e contei pra minha irmã sobre o diálogo com melhor da PUC.

- Eu acho que tu vai ser um gênio!
- Quê?
- Tu é diferente de todas as pessoas que eu conheço.
- ? – faço cara de Monalisa e finjo que está tudo bem.
- Eu acho que tu vai inventar uma máquina, algo muito extraordinário.
- Hum – deixei que ela prosseguisse com seu raciocínio.
- Porque a ovelha negra da família – naquele instante eu acabava de ter sido promovida a ovelha negra – sempre se dão bem… ou muito mal. São dois extremos, acho que tu tende a um deles.

Gostei da idéia do gênio afinal de contas todos os gênios são meio malucos, meio maluca as pessoas já diziam que eu era só me faltava então a genialidade.

No outro dia minha irmã e eu assistimos um filme(Um grande garoto – Hugh Grant, 2002), o protagonista tinha 38 anos e não trabalhava, afirmava que não entendia como as pessoas conseguiam tempo para trabalhar mas ao mesmo tempo se sentia constrangido quando alguém perguntava o clássico: O que você faz?

Exceto o fato de que ele tinha o dobro da minha idade e que seus olhos eram bem mais azuis que os meus a identificação foi grande.
Eu chegava atrasada na faculdade, meus colegas comentavam sobre o dia cansativo, sobre o chefe impertinente…

- E tu? Isso são horas? Tava trabalhando até agora?
- Não na verdade eu estava dormindo.

Eu também me sentia constrangida, porque as pessoas achavam que não trabalhar era mais feio que dar na mãe. Por quê? Lindemberg foi definido como trabalhador, isso mudaria o conceito que você tem dele? Nardoni também trabalhava.

Se trabalhar fazia elas mais felizes tudo bem, eu respeitava apesar de não entender o fato de adorarem tanto serem massacradas por um tal de chefe, ser chacota da empresa por serem estagiárias e chegar em casa feias, suadas e com cara de cansadas sem nem vontade de namorar. Desculpa, mas eu preferia ficar em casa enchendo a barriga de doritos queijo nacho, vendo qualquer seriado idiota na tevê e quando o meu namorado chegasse em casa eu estaria disposta, bem humorada e saberia que quando ele falasse as palavras mágicas “Nossa como você está linda” não seriam só para me agradar. Obrigada Hugo(Beauty) e Helena(Rubstein)!

As pessoas achavam que eu estava louca porque eu dormia demais, não tinha grandes responsabilidades, essas coisas todas.

- Mas eu não tenho vontade de trabalhar, tenho vontade de dormir.
- Dormir é o que todos querem.

Se você pudesse fazer algo que todos quisessem e não pudessem você deixaria de fazer? Pra mim se tornava ainda mais excitante, como a sensação de pegar o mais gostoso do colégio, todo mundo quer mas quem pode é você.

Eu achava engraçado que todos os trabalhadores do Brasil me diziam que eram muito felizes, amavam as suas faculdades e seus trabalhos mas não me recordo de tê-los visto de bom humor na Segunda-feira e nem odiando os feriados por não ter que ir para o amado trabalhado e a idolotrada faculdade. Também não me recordo de hora extra sendo feita com prazer, me recordo de ligações aos prantos onde me diziam frases como “não tenho tempo pra nada”, “não sei se vou dar conta”, “só trabalho porque preciso de grana”. Eles que me desculpassem mas essa vidinha feliz eu não queria pra mim.

As pessoas definitivamente não entendiam meu ponto de vista, diziam coisas clichês, frases prontas e eu não tirava um único pensamento da cabeça: criar uma máquina de lavar louça que viesse com um vibrador.