E lá fui eu para mais uma de minhas aventuras diárias. Na hora agá todo mundo deu pra atrás, tudo bem, eu chego na festa, me apresento pra alguém e sou feliz pra sempre até a música acabar. Desde o prolongado reveillon em Florianópolis que eu esboçava uma vontade de ir a um forró, só que naquele tempo eu ainda não era uma mulher superior que saía sozinha, hoje em dia me emancipei.
Como assim? Eu paguei 20 reais pra entrar nessa jabirosca e não tem nem sabonete? Ah pára! Sem contar que a descarga da privada é de puxar a cordinha e eu tenho aversão a descarga de puxar a cordinha.
A Tata me deu bolo na hora agá mas me deu o telefone do amigo dela que ia lá no mesmo lugar que eu: "Procura ele lá, ótima companhia, ele te faz rir o tempo todo e ainda dança contigo a noite inteira. Ele é loiro, alto, gostoso, tá sempre com um sorrisão e é judeu. Tem bem cara de judeu". Como é ter bem cara de judeu? Já me imaginei lá: "Oi, qual é a tua religião? Ah, e a do teu amigo?", não, isso não vai dar certo, melhor mandar uma mensagem pra criatura: "Oi, eu sou amiga da Tata, estou sozinha, blusa rosa, calça branca, loira, cabelo comprido, flor no cabelo. Procure-me.", ficou com muita cara de classificados da zero hora mas era uma dançadinha garantida, né?
E lá fui eu! Um comprido fez uma mímica pra mim, acho que ele quer dançar, será que eu vou dançar com o surdo-mudo da festa? Melhor assim, nada de papinhos xaropes. Báh mas o comprido era bom na coisa, me jogava pra tudo quanto era lado, me girava e me tacava pro lado de novo. Mãe, que espetáculo de homem! E ainda por cima tinha cheiro bom, mas peraí, só um pouquinho, vamos dar uma conferida na lata do guri: barman, filho de uma égua! disse que depois daquela tequila eu ia achar as pessoas mais bonitas e isso não aconteceu...
Por favor, o próximo.
Vi um cara ser rejeitado por duas gurias, isso partiu o meu pobre coraçãozinho. Só porque ele é feio? O feio também ama! A camisa dele parece a toalha de mesa da vó mas nada que uma mulher não resolva. Estava quase tirando o feio pra dançar quando de repente... opa! Apareceu uma oportunidade melhor.
É, mais uma vez a miopia me enganou. Olhei ao meu redor e cadê o feio? Tinha sumido. Vou conversar com esses daqui que estão perto.
- Não é uma festa a fantasia, não precisa se fantasiar de estátua! Vocês não dançam?
Dois pra lá, dois pra cá e toca meu celular.
- Estátua, segura aí minha smirnoff que minha bolsa tá tremendo. Alô, amigo da Tata? Que que tu tá fazendo aí na frente, criatura? Volta já pra cá. Estou dançando com um guri de cabelo em pé, me acha.
Agora é a vez do amigo do estátua.
- Vamos dançar assim ó, de rosto colado.
- Quê??? Nãããão. Isso é uma coisa completamente(me segurei pra não dizer gay)... WANDO! Tá certo que essa música é ruim, mas ainda assim não é do Wando.
Voltei ao estátua.
- A gente está indo embora agora, vamos com a gente?
- Vocês bebem escondido? Pra onde vocês vão?
- Não sei, pra um posto.
- Tu acha que eu vou me deslocar daqui pra ir em um posto?
- Então me dá teu telefone.
- Pra que? Tu não vai me ligar mesmo.
- Claro que eu vou te ligar.
- Não vai.
- Vou sim.
- Não, não. Conheço bem o teu tipinho.
- E qual é o meu tipinho?
- É do tipo homem. Teu amigo até poderia me ligar, mas tu não.
- Tá, então eu vou te dar meu telefone.
- Ok. Tu me dá o teu e eu te dou o meu, me parece justo.
- Não, tu não vai me dar o teu, só eu vou te dar o meu.
- Não, os dois vão dar os telefones.
- Tu fica com o meu mas não me dá o teu.
- Chegaaaa! Não quero mais o teu telefone.
O amigo entra em cena:
- A gente não vai dormir juntinhos?
- Que dormir juntinhos o que, chama uma prostituta.
- Não, é só dormir juntinhos mesmo.
Morri e ressuscitei. Rosto colado, dormir juntinho? Como diria o Severino: Mas isso é uma bixona!
Dancei com uns e outros e lógico que eu e o último homenzinho que dancei fomos os últimos a deixar a pista.
- Atravessa ali a rua pra comprar um cachorro-quente comigo.
- Mas tu nem me deu um beijo.
Ai que gente chata, só pensam em beijo, que saco!
Até eu atravessar a rua a casinha de lata do tio do cachorro-quente tinha fechado, bati na janelinha.
- Abre! Abre que eu tou com fome.
Um voz lá dentro gritou:
- Acabou o pão!
Me senti um mendigo naquela hora e lembrei de um outro dia que eu estourei o limite do cartão do banco e meu cartão bloquiou, fui até a primeira agência que apareceu na minha frente e perguntei como desbloquear o cartão pro homenzinho que usa aquela roupa ridícula escrito: "Posso ajudar?"(os bancos precisam urgentemente de um personal styler, coitados dos homenzinhos que acham que ajudam nos bancos, eu pelo menos uso roupas apertadas e troco elas de vez em quando).
- Tem que ir até a tua agência.
- Mas a minha agência é longe.
- Só lá para fazer o desbloqueio.
- Moço, são quase quatro horas, como é que eu vou comer?
Fez-se silêncio. Olho pro lado e tem um guri lindo observando cada palavra dita.
Ah, morram todos.
- Alô, Woddy Alen, a festa terminou
Minutos depois.
- Oi princesa!
- Oi Woddy Alen.
- Tá com fome?
- Aham, vamos no mac.
- Tem dinheiro?
- Sim, até o dia 10 eu sempre tenho dinheiro.
- Ó, dois pirulitos pra ti e dois pra mana.
- Obrigada. Tchau, Woddy Alen, até amanhã.
Fim da noite.